relatório

1. Introdução – Contextualização

Buscar soluções sustentáveis para tornar as cidades melhores para a população é um desafio global. Iniciativas que dialoguem com a natureza, respeitem a biodiversidade, apresentem inovação e criatividade e somem qualidade de vida para a sociedade se tornam cada vez mais necessárias em todo espaço urbano ao redor do mundo – e no Brasil, não é diferente. 

Com grande parte da população vivendo em zonas urbanas, é cada vez mais preciso buscar, incentivar e compartilhar projetos que sejam capazes de implementar impactos positivos em todos os âmbitos, do social ao econômico. O desenvolvimento e expansão das cidades é constante e crescente, e para atender necessidades básicas das pessoas, como mobilidade, moradia, saneamento, saúde e educação sem comprometer a fauna, a flora e a cultura local, é fundamental atuar com inteligência e assertividade. 

Implementar mudanças estruturais não é uma tarefa fácil ou repentina, especialmente em grandes metrópoles e suas regiões metropolitanas. A colaboração é um esforço primordial nestes objetivos. Seja unindo forças com a comunidade local, o setor público ou privado ou até fomentando o fortalecimento do empreendedorismo, bons resultados que repercutem diretamente na qualidade de vida da população surgem da união da potência e habilidade de cada um dos setores envolvidos.  

Enquanto projeto multidisciplinar, um dos papéis do Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis (OICS)  é incentivar a construção de ambientes sustentáveis e inclusivos que sejam capazes de conciliar o desenvolvimento das cidades sem prejudicar os bens naturais de cada região. Uma das maneiras ativas de atingir este objetivo é compartilhando conhecimentos e experiências.

Ampliar o alcance de ações inteligentes com alto potencial transformador é uma das frentes da nossa atuação. A partir de um mapeamento de soluções urbanas, entendemos como a sustentabilidade é um caminho possível e que já está sendo desenhado com muito empreendedorismo, criatividade e determinação. É neste sentido que apresentamos a Missão Técnica Virtual Rio-Niterói, disseminando as inovações destes municípios que têm se destacado e podem ser adaptadas à vivência de outras cidades pelo Brasil e pelo mundo. 

 

 

2. Um pouco sobre os territórios 

[Rio de Janeiro]

No litoral do sudeste brasileiro, o Rio de Janeiro é a segunda maior cidade do país. Lar para quase 7 milhões de habitantes, é um de nossos principais cartões postais e recebe milhões de turistas anualmente. A cidade leva em suas ruas, planícies, serras e morros uma grande parte da história do Brasil: antes da criação de Brasília, o Rio foi a nossa capital federal entre 1763 e 1960. 

Inserido na Mata Atlântica, a cidade tem o clima tropical dominante e um verão marcado pelas altas sensações térmicas. Além de serem grandes referências turísticas, as lagoas e praias da região ajudam os cariocas a aliviar o calor. Segundo o IBGE, toda a população do Rio de Janeiro reside na zona urbana, demonstrando a alta densidade demográfica presente na cidade. Mais de 20% dos moradores da cidade estão nas 763 favelas da cidade, um indicativo que também revela a disparidade social que integra a rotina da capital fluminense. Entender o Rio de Janeiro hoje é assimilar vários fenômenos que também refletem outros municípios do Brasil, da colonização à urbanização.

[Niterói]

A 15 km do Rio de Janeiro, Niterói abriga 513 mil habitantes em uma área de 133,7 km², sendo um dos dez maiores municípios do Brasil. A cidade se destaca por ser um dos principais centros comerciais e industriais do Rio de Janeiro, concentrando um elevado número de investimentos ligados ao gás e ao petróleo.

Localizado entre a Baía de Guanabara e o Oceano Atlântico, Niterói está entre colinas costeiras e planícies e possui terrenos cristalinos e áreas de restinga e mangue, embora a Mata Atlântica predomine. Assim como o Rio de Janeiro, o clima tropical traz verões quentes, invernos brandos e chuvas constantes. Graças às suas praias e atrações culturais, é uma das cidades que mais recebe turistas no estado do Rio de Janeiro. Devido a Universidade Federal Fluminense, a cidade também é considerada um polo universitário que atrai estudantes de todo Brasil.

 

3. Projetos

[Teto Verde Favela]

Se as temperaturas elevadas na primavera e no verão são sentidas em todo território carioca, o clima fica ainda mais quente nas favelas da capital: seja pela falta de planejamento urbano e arquitetônico dos conglomerados ou pela verticalização e proximidade das habitações, o calor constante durante estas estações causa um incômodo térmico que prejudica a qualidade de vida dos moradores das mais de 700 favelas da cidade. 

 

A motivação de Luiz Cassiano, morador da favela do Arará, na Zona Norte do Rio de Janeiro, para buscar soluções sustentáveis foi justamente sentir mais conforto com a temperatura dentro de sua própria casa. Em 2014, começou a pesquisar possibilidades que poderiam ser feitas a baixo custo e terem adaptabilidade às condições climáticas do Rio de Janeiro. A resposta veio com o auxílio do pesquisador e biólogo Bruno Rezende, que estuda telhados verdes na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 

Enquanto em países mais desenvolvidos da Europa, como Alemanha e Holanda, os telhados verdes já são uma realidade espalhada pelos centros urbanos, no Brasil ainda enfrenta o alto custo e as dificuldades de adesão e manutenção na proposta de construir jardins aéreos em telhados das habitações. Se levar uma iniciativa tão inovadora já é um desafio em condições mais favoráveis, como levá-la para uma comunidade densa e com mais de nove mil habitantes como a Favela do Arará? 

 

Com o objetivo de difundir a proposta dos telhados verdes, Luiz Cassiano criou o projeto Teto Verde Favela e usou sua residência como piloto. Aproveitando as telhas de zinco ou amianto, comuns nas favelas, o método para implantar o telhado verde consiste em utilizar um substrato geotêxtil que tem pouco peso, não comprometendo estruturalmente as edificações e tornando a sustentação impermeável. Para compor a flora, espécies com enraizamento superficial como litófitas e epífitas são priorizadas, mas Luiz Cassiano destaca que é possível experimentar a adaptação de outras plantas no ambiente. 

 

O custo estimado de implementação dos telhados verdes é de aproximadamente 100 reais por metro quadrado, mas além do valor, outros obstáculos também são desafiadores na implementação da favela: priorizar investimentos sustentáveis não é uma escolha óbvia, apesar dos benefícios notáveis. A diferença de temperatura da habitação de Luiz para outras casas do Arará chega a ser de até 15 graus e o telhado verde ainda atrai uma grande variedade da avifauna nativa, que contribui no controle de pragas urbanas. As visitas de pássaros de diferentes espécies são celebradas com muito entusiasmo por Luiz e sua família.

 

O comprometimento com a manutenção também é importante: assim como jardins tradicionais, os jardins aéreos também precisam de água, podas e substratos. É por isso que, para implementar novos telhados verdes, um mapeamento foi feito na comunidade, garantindo que as próximas estruturas de telhado verde sejam construídas nas casas de quem já tem afinidade com as plantas. 

 

Mesmo diante das dificuldades de adesão e financiamento, Luiz Cassiano defende a reprodução de iniciativas semelhantes nas favelas de todo o país, pois sente na pele os benefícios que um telhado verde pode trazer: micro mudanças climáticas a partir da diminuição do efeito de ‘ilha de calor’, redução da poluição ambiental e sonora, melhorias respiratórias a partir da umidificação do ar nos meses mais secos, e a proximidade com a natureza cada vez mais presente na rotina das comunidades, trazendo a possibilidade de um novo espaço de convívio para a população local. 

 

“Muita gente da favela tem ar condicionado, que resolve o problema interno. Mas em compensação, ele tira o ar quente de sua casa e joga para a rua, fazendo uma bolha em cima da favela. Isso a gente sente na pele. Quanto mais telhados verdes, melhor para a favela, para o planeta e as pessoas que vivem nele. A gente não tem pessoas preocupadas com ambientalismo na favela, mas a gente está fazendo o máximo para fazer as pessoas acordarem e pensarem. O futuro não é nada agradável se continuarmos tendo as mesmas atitudes com o meio ambiente”

Luiz Cassiano, fundador da Teto Verde Favela

 

 

Outras iniciativas para inspirar

Inspire-se em outras iniciativas que apostam em telhados verdes para contribuir com a diminuição das temperaturas nas cidades: 

 

“O Hospital Orizonti – Instituto Oncomed de Saúde e Longevidade, em Belo Horizonte, foi apontado como um projeto-referência, que contribui para deixar as cidades mais permeáveis. A razão são os 6.942 m² de revestimento vegetal que há no topo do prédio onde funciona a instituição médica. Devido a cobertura vegetal, o telhado do hospital consegue captar e armazenar até 370 mil litros de água pluvial excedente em um reservatório de 370 m³. Todo volume de água drenado será reutilizado para irrigação da vegetação e também para limpeza de alguns ambientes.” (Saiba mais)

 

“A Universidade de Thammasat, em Bagnkok, é uma das instituições de ensino mais antigas da Tailândia e abriga um imenso telhado verde com 7 mil m² de extensão que é capaz de gerar 80 mil refeições por ano (equivalente a 20 toneladas de alimentos orgânicos) para os residentes do campus.” (Saiba mais)

 

“A Prefeitura de Lauro de Freitas vai conceder descontos no Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) para edificações que receberem da administração a certificação sustentável, denominada IPTU Verde. Criado pela gestão municipal por meio da Lei 1.961, de 28 de setembro de 2021, a medida será regulamentada pela Prefeitura via decreto. Os descontos vão de 2,5% para edificações que adotarem duas medidas, a 5% quando forem adotadas quatro das medidas sustentáveis, como condição para a certificação dos imóveis. Entre as medidas estão a implantação de telhado verde em no mínimo 25% do teto do último pavimento do imóvel; sistema de reuso de 90% das águas cinzas ou negras; emprego de seletividade no descarte dos resíduos orgânicos, plástico, vidros e descartáveis.” (Saiba mais)

 

“Desde 2012, o Shopping Eldorado investe em um projeto de reciclagem e de compostagem, com o objetivo de dar um destino ecologicamente correto a cerca de 2 toneladas de lixo orgânico gerados diariamente em suas praças de alimentação. As sobras de alimentos recebem enzimas que aceleram o processo de compostagem, retiram o odor desagradável e são transformadas em adubo, usado em uma horta no telhado verde do Shopping. No local são produzidos legumes e verduras livres de agrotóxicos e destinados aos próprios colaboradores do shopping.” (Saiba mais)

 

“A primeira escola-verde do Brasil, além de energia solar, reaproveitamento da água da chuva, iluminação natural e área para reciclagem, também possui um ecotelhado. Plantas foram integradas à estrutura física do prédio, ajudando a reter água para reuso, favorecendo o clima e neutralizando emissões de carbono.” (Saiba mais)

 

Singapura está desde 2019 testando telhados verdes em ônibus. A iniciativa Garden on the Move (jardim em movimento, em tradução livre), da especialista em hortaliças urbanas GWS Living Art, faz parte de um estudo para ver se a temperatura dentro dos veículos pode ser reduzida e se isso pode colaborar com a economia de combustível. (Saiba mais – em inglês)

 

 

Dados e números

  • De acordo com a EPA (Environmental Protection Agency), o uso de telhados verdes em cidades ou outros ambientes construídos com vegetação limitada pode moderar o efeito da ilha de calor, especialmente durante o dia. As temperaturas dos telhados verdes são entre 16 e 22 °C mais baixas do que os telhados convencionais e podem reduzir a temperatura ambiente da cidade em até 2,7 °C.
  • Stuart Gaffin tem pesquisado em Nova York sobre as possibilidades de instalar telhados verdes nos topos dos prédios. Segundo este artigo que assina com outros pesquisadores, estima-se que a área em potencial da superfície de telhados na cidade equivale a 20-30 vezes a área terrestre do Central Park. 
  • Dados coletados de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia, do Centro de Pesquisa de Telhados Verdes, mostram que os telhados verdes capturaram até 80% da chuva durante as tempestades, em comparação com os 24% típicos dos telhados padrão.
  • Uma pesquisa realizada na Austrália comprovou que telhados verdes contribuem para aumentar a eficiência de painéis solares. Isto é, as placas funcionam melhor quando não estão muito quentes. O resultado foi que o topo com telhado verde melhorou o desempenho energético em até 20% nos horários de pico e em 3,6% ao longo do experimento. Ao todo, foram 9,5 MWh adicionais.

Tendência relacionada: Regeneração em Crescimento

De acordo com a Wunderman Thompson, consultoria global de tendências e inovação, estamos vivendo uma mudança de comportamento em direção a práticas regenerativas.  Em seu relatório Regeneration Rising: Sustainability Futures, a empresa afirma que “a regeneração vai além da sustentabilidade—visando um impacto positivo e restaurador, em vez de apenas procurar causar menos danos”.  Um dos números apontados no relatório, que comprova a preocupação das pessoas com o tema é que 85% das pessoas se dizem preparadas para repensar a maneira como vivem e consomem para enfrentar as mudanças climáticas.

 

[Niterói de Bicicleta]

Políticas públicas podem e devem fomentar hábitos mais saudáveis para a população e para a cidade. Esta é a premissa do Niterói de Bicicleta, coordenadoria municipal que incentiva o uso da bicicleta como meio de locomoção para curtas e médias distâncias dentro do território niteroiense. A mobilidade hoje faz parte de discussões importantes para a qualidade de vida nos centros urbanos. De questões climáticas ao trânsito, cada vez mais intenso em cidades de grande e médio porte, pensar em modais alternativos é central para a qualidade de vida nos centros urbanos. A bicicleta é protagonista em um diálogo interdisciplinar: ao incentivar o modo de transporte, Niterói tem ganhos que perpassam pontos como redução da pegada de carbono, menores congestionamentos, vias públicas mais acessíveis e seguras e um fomento à economia local. 

 

Niterói de Bicicleta surgiu enquanto programa em 2013, dentro do plano estratégico municipal, com a premissa de apresentar à população iniciativas no âmbito da mobilidade, meio ambiente e da vivência no espaço urbano. Em 2021, a partir de um decreto municipal, o projeto torna-se uma coordenadoria da prefeitura alocada dentro da Secretaria Municipal de Urbanismo e Mobilidade, responsável pelo monitoramento, planejamento e execução da malha cicloviária.

 

Para tornar a cidade mais amigável para os ciclistas, a coordenadoria possui várias frentes de atuação. A implementação de  novas ciclovias e ciclofaixas, a manutenção e aprimoramento das vias já existentes, a construção de um bicicletário público e a criação de campanhas educativas são algumas delas, sempre mantendo uma via de diálogo aberto com quem vive a cidade e a experiência cicloviária diariamente: os ciclistas da cidade. Desde o processo de elaboração do programa, o plano cicloviário do município é participativo e reuniões com ciclistas de todas regiões da cidade foram realizadas para definir um projeto de estrutura cicloviária para atender a cidade. Até agora, ao menos 60% da área urbanizada de Niterói está ligada ao centro da cidade por meio de ciclovias seguras. Os próximos passos são conectar as zonas norte e sul até a região central. 

 

Outro ganho relevante foi a criação do primeiro bicicletário gratuito e público do Brasil em Niterói. Com uma localização estratégica, próximo às barcas que ligam Niterói a outros municípios, o bicicletário oferece 446 vagas. Os usuários podem permanecer com a bicicleta no local por até 72 horas, o que facilita o uso no contraturno e incentiva o transporte intermodal de quem pega a barca para trabalhar em outras cidades: um local seguro para deixar a bicicleta durante o expediente aumentou em pelo menos 50% o uso de bicicletas nos trajetos até o centro da cidade. Com uma rotatividade alta, cerca de 600 a 700 bikes passam pelo bicicletário diariamente. 

 

O comparativo de dados dos anos de 2015 e 2019 mostram que os esforços de Niterói têm se convertido em uma população mais ativa na mobilidade e pedalando pela cidade: cerca de 4200 ciclistas estão na rua diariamente, um número quase quatro vezes maior do que o encontrado no último levantamento, que apresentava uma média de 800 a 900 pessoas utilizando a bicicleta como meio de transporte, esporte ou lazer a cada dia.

 

A longo prazo, o objetivo da mobilidade urbana sustentável de Niterói é alcançar o número de 14% dos deslocamentos diários na cidade sendo feitos de bicicleta até 2030. Para contribuir nesta missão, além de implementar novas ciclovias seguras e instalar paraciclos por toda a cidade, divulgar a cultura da bicicleta é uma das grandes apostas para a eficácia do programa: a partir de passeios e eventos para pessoas de todas as idades – incluindo crianças na primeira infância – a coordenadoria Niterói de Bicicleta busca mostrar cada vez mais os benefícios de circular ativamente pela cidade. 

 

“Temos a consciência de que a bicicleta sozinha não é uma solução integral para o deslocamento na cidade. Ela precisa estar acompanhada do transporte público e os ciclistas precisam ter o suporte para fazer a intermodalidade quando necessário. A bicicleta é uma ferramenta fantástica para tornar as cidades mais humanas e próximas das pessoas que a utilizam. Ela é sem dúvida uma maneira de chegarmos em uma cidade mais sustentável, mais verde e mais saudável.”

Filipe Simões, coordenador do programa Niterói de Bicicleta 

 

Outras iniciativas para inspirar

Conheça outros projetos de mobilidade que tentam reduzir a dependência de um único modal e propiciar opções mais sustentáveis aos moradores de diferentes cidades pelo mundo:

 

“A Quicko, startup brasileira de mobilidade urbana, anunciou nesta sexta-feira, 03 de dezembro de 2021, o lançamento do primeiro clube de vantagens do transporte público no Brasil, o Clube Quicko. Segundo a startup, o objetivo é trazer ‘mais conveniência, benefícios e economia para quem precisa fazer o seu corre pela cidade, a nova funcionalidade permite que os usuários do transporte público troquem pontos por créditos no cartão de transporte, além de créditos para recarga de celular’. Inicialmente, o chamado Clube Quicko está disponível para os passageiros de Salvador, na Bahia. Para acumular pontos, basta que as pessoas usem o aplicativo da Quicko.” (Saiba mais)

 

“Cada vez mais cidades no mundo adotam Zonas 30 e a redução dos limites de velocidade como política de segurança viária, principalmente na Europa. Na Holanda, por exemplo, as Zonas 30 são extremamente comuns. Na Suíça, as áreas com limite de 30 km/h são previstas em lei desde 1989, tendo sua primeira implantação em Zurique, em 1991. Em setembro de 1992, a cidade de Graz, na Áustria, se tornou a primeira cidade europeia a implantar um limite de 30 km/h em toda a cidade, exceto em sua via principal.” (Saiba mais)

 

“A operação de ônibus elétricos prevista nos projetos do Inter 2 e do Corredor Leste-Oeste é uma iniciativa da Prefeitura de Curitiba como parte do redesenho da lógica dos serviços de mobilidade urbana na cidade. Aliado ao transporte público, também estão em curso na cidade as intervenções de ampliação, em 200 quilômetros, da malha voltada à ciclomobilidade definida no Plano de Estrutura Cicloviária e ainda o Projeto Caminhar Melhor, de melhoria de calçadas e da acessibilidade em todos os níveis. A eficiência energética e a redução de emissões de CO2 é o foco dos projetos em curso no município, conforme as diretrizes do Plano de Adaptação e Mitigação das Mudanças Climáticas de Curitiba (PlanClima).” (Saiba mais)

 

“Em dezembro do ano passado, foi assinada a parceria entre o Governo do Estado de São Paulo e os municípios da Baixada Santista, com o apoio da União Europeia, para confecção do PRMSL-BS. O projeto foi selecionado pelo Programa Euroclima, que concede apoio a ações de mobilidade urbana com sustentabilidade ambiental, e receberá apoio financeiro da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). (…) Ao todo, são seis módulos de trabalho: planejamento; o atual, de diagnóstico; prognóstico; plano de ações e financiamento e, por fim, participação e implementação.”  (Saiba mais)

 

“Para auxiliar as cidades capixabas a caminharem rumo ao futuro, o Espírito Santo criou um serviço de consultoria capaz de melhorar a infraestrutura, otimizar a mobilidade urbana, desenvolver soluções sustentáveis e usar a tecnologia a favor da qualidade de vida. O programa ES Inteligente ajuda prefeituras a realizarem projetos que são tendências nas áreas de tratamento de resíduos sólidos urbanos, energia fotovoltaica, iluminação pública com wi-fi e mais econômica, soluções tecnológicas para conexão de internet nas ruas e sistemas eficientes de abastecimento de água e tratamento do esgoto, por exemplo.” (Saiba mais)

 

Dados e Números

  • Segundo as Nações Unidas, o setor de transportes contribui com 25% das emissões de gases que causam o efeito estufa. O setor também é o principal ou o segundo maior contribuinte das emissões ligadas à energia.
  • A meta 3.6 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é reduzir pela metade o número de mortes até 2030.
  • O Governo Federal, por meio do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), autorizou, neste ano, a contratação de R$ 109,4 milhões em financiamentos para obras de mobilidade urbana por meio do Programa Avançar Cidades. Foram aprovadas dez propostas de municípios do Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Piauí, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Os recursos são provenientes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
  • O projeto Mobilize sua Cidade busca apoiar 100 cidades em 20 países emergentes ou em desenvolvimento para que implementem iniciativas sustentáveis nos seus planos nacionais de transportes. A meta é que cada cidade reduza, até 2050, entre 50% a 75% das emissões ligadas aos transportes urbanos. Um projeto piloto será lançado no próximo ano  em países da África, da Ásia e da América do Sul.
  • Para estimular uma mobilidade urbana mais sustentável, o Ministério do Desenvolvimento Regional apresentou em setembro deste ano o Selo Bicicleta Brasil. O propósito da iniciativa é certificar empresas e órgãos públicos que adotarem medidas que estimulem o transporte cicloviário.
 

Tendência Relacionada: Carbono Zero ou Carbono Neutro

Seja na COP26 ou na maior conferência de tecnologia do mundo, a WebSummit, um tema faz parte da agenda dos líderes mundiais e das grandes corporações: zerar a emissão de gás carbônico precisa ser um compromisso de todos. Para isso, é necessário o investimento em ações efetivas e inovação. De acordo com o presidente da Microsoft, Brad Smith, cerca de 90% das metas propostas na COP26 podem ser alcançadas com tecnologias existentes. Governos, empresas e sociedades precisam apenas se articular e formar uma grande rede para que elas sejam aplicadas no nosso dia a dia. 

 

[NOAH Smart City]

Devido às mudanças climáticas vivenciadas de diferentes formas em todo o planeta, as chuvas cariocas são cada vez mais intensas e devastadoras em razão da geografia da cidade e do processo de urbanização sem planejamento local. Os alagamentos e enchentes causam impactos que atingem toda a população, independente do bairro que residem ou da classe social: do saneamento básico à mobilidade e fornecimento de energia elétrica podem ser comprometidos pelas intempéries da natureza, sem mencionar os riscos de segurança causados por deslizamentos de terra decorrente das tempestades. 

 

De um Desafio de Startups do Centro de Operações do Rio (COR) para pensar novas soluções para as consequências das chuvas que prejudicam o Rio de Janeiro, nasceu a NOAH Smart City. Unindo tecnologia, empreendedorismo, inovação e sustentabilidade, a empresa desenvolveu uma solução customizada para realizar o monitoramento em tempo real de pontos críticos da capital a partir de sensores que transmitem os níveis de alagamento dos locais estabelecidos. 

 

Com a criação de um equipamento chamado NOAH flood, é possível captar dados e emitir alertas para que órgãos públicos possam agir com mais agilidade e rapidez. Estas mesmas informações podem contribuir, a longo prazo, com o estabelecimento do tempo médio de alagamento e escoamento de cada região, dados até então, inéditos para o COR e que podem ser de grande relevância para o planejamento urbano e futuras obras de infraestrutura na cidade.

 

A operação do NOAH flood é simples e exige uma estrutura que já é comum nos ambientes urbanos. Para funcionar, é necessário ser acoplado em um poste com uma distância mínima de 1,5m do solo. No instante em que começa a chover, a captação de dados também inicia: a cada dois minutos, um sinal ultrassônico que captura informações como o nível de altura da água, velocidade de escoamento, umidade relativa do ar e temperatura é emitido. Ao atingir níveis críticos, alertas são emitidos tanto para monitores localizados no COR quanto para um grupo de aplicativo de mensagens que aciona os principais órgãos locais relacionados, como a Guarda Municipal e a Companhia de Engenharia de Tráfego. Atualmente, 11 sensores estão instalados em pontos estratégicos da cidade, como o Catete e o Itanhangá. Para cobrir toda a capital, são necessários 1200 aparelhos.

 

O apoio de um órgão público ao empreendedorismo local, foi fundamental para a criação e implementação da solução pensada pela NOAH. A partir da seleção no desafio e do incentivo de um investidor-anjo, a empresa também busca oferecer soluções de captação de dados para setores privados, otimizando questões como logística e segurança. A solução é customizável e pode se adequar para atender as necessidades de coleta de dados tanto de outros municípios quanto de empresas que querem entender melhor os fenômenos que impactam em suas operações. 

 

“Nossa intenção não é substituir nenhuma equipe ou profissional. É instrumentalizar para que eles tenham informações certeiras e rápidas para a tomada de decisão. É um grande ganho a nível de conhecimento da cidade. A gente sabe por convivência que a chuva dá impacto e, independente de classe social, uns mais outros menos, todo mundo é impactado por ela. Não sabemos o quanto e quanto. O equipamento responde a isto, passando a informação do momento crítico do evento da cidade, os operadores conseguem ser mais rápidos na resposta.  Com banco de dados e os registros, dá para entender qual é a condição de cada área da cidade.”

Magnes Grael, COO da NOAH Smart City

 

Outras iniciativas para inspirar

Descubra as propostas de outros projetos que utilizam sensores inteligentes e internet das coisas para melhorar a vida de seus habitantes e tornar as cidades mais sustentáveis:

 

Rega Inteligente – solução que “utiliza um sistema de controladores eletrônicos, sensores e válvulas para garantir que a quantidade de água aplicada às plantas seja apenas a necessária ao seu desenvolvimento. Esta solução, implementada já no município de Águeda (Portugal), permite poupanças de água e energia na ordem dos 30% respetivamente, possibilita a deteção de fugas, entupimentos e anomalias, bem como a aplicação de modelos de rega, adubagem e tratamentos fitossanitários diferenciados por tipo de plantas.” (Saiba mais)

 

Gestão de Resíduos – solução que “possibilita a monitorização dos contentores e caminhões de recolha de lixo, por forma a otimizar os sistemas de recolha e reduzir custos. Sensores instalados nos contentores indicam o nível de enchimento e, no início da recolha, os veículos recebem a rota otimizada para os contentores que necessitam de serviço. A solução, implementada no município do Seixal (Portugal) permite já poupanças de combustível na ordem de 20%, e uma melhor gestão dos veículos e equipes, com poupanças efetivas de cerca de 40%.” (Saiba mais)

 

“Recentemente a Sony publicou um novo vídeo de demonstração de seus sensores IMX500 que utilizam inteligência artificial. A novidade já está sendo testada em Roma, na Itália. (…) Através do sensor, é possível utilizar machine learning e redes neurais (neural networks), além de fornecer, através da conexão com a internet, dados aos cidadãos sobre a área em que estão se deslocando. Com esta tecnologia é possível auxiliar na procura de vagas para estacionamento, realizar ajustes quando um acidente de trânsito ocorrer e reduzir incidentes com pedestres, entre outras funções. As possibilidades proporcionadas por essa tecnologia podem auxiliar significativamente na mobilidade urbana dos cidadãos e na gestão do trânsito, tornando o deslocamento e utilização das vias mais eficiente.” (Saiba mais)

 

“Um pequeno município do interior do Paraná, com apenas 15.251 habitantes e essencialmente rural foi escolhido para testar serviços previstos para as cidades do futuro. É Ipiranga, nos Campos Gerais. Tudo começou em 2018 quando os relógios analógicos que mediam o consumo de energia elétrica foram totalmente substituídos por medidores digitais inteligentes. (…) Agora o município dá mais um passo à frente dos outros 398 que existem no Paraná. Toda essa estrutura de rede inteligente será compartilhada para outras aplicações e funcionalidades. Um projeto piloto da Copel, em parceria com o Lactec, prevê, num primeiro momento, a medição inteligente do consumo de água, o monitoramento climático e a automação da iluminação pública.” (Saiba mais)

 

“A Toyota, maior montadora do mundo, está construindo sua primeira cidade inteligente no mundo. Batizada de Woven City, a área de aproximadamente 70,82 hectares fica localizada perto do monte Fuji, no Japão, e terá uma comunidade totalmente autônoma, projetada para testar novas tecnologias como direção automatizada, robótica e IA (inteligência artificial). O protótipo da cidade do futuro será construído do zero no local da antiga fábrica de Higashi-Fuji, que encerrou suas operações de fabricação de automóveis em dezembro de 2020. A proposta da cidade é que todas as pessoas, edifícios e veículos possam se comunicar uns com os outros por meio de dados em tempo real e sensores incorporados.” (Saiba mais)

 

“O Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) começou a utilizar com mais regularidade a Internet das Coisas (IoT – Internet of Things) e instalará, até o final de 2021, 50 estações hidrometeorológicas com dois sensores inteligentes diferentes – um para nível de água e outro para nível de chuva. A ideia é modernizar e ampliar a rede de cerca de 300 estações que coleta os dados da natureza e aumentar a qualidade de transmissão em tempo real à sua central de operações.” (Saiba mais)

 

Dados e Números

  • Segundo dados da consultoria Research and Markets, o mercado global de smart cities deve saltar de US$ 410,8 bilhões em 2020 para US$ 820,7 bilhões em 2025. A adoção de soluções inteligentes vai aumentar, segundo o relatório, devido à crescente demanda por segurança pública e infraestrutura de comunicações, maior capacitação e engajamento das pessoas por novas tecnologias e aumento da população urbana.
  • O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Mauricio Claver-Carone, estimou serem necessários aportes de 20 bilhões de dólares para que o Brasil atinja níveis de conectividade da OCDE, organização de países desenvolvidos, segundo matéria da revista Exame.
  • A terceira edição do IMD-SUTD Índice de Cidades Inteligentes (SCI) revelou que as percepções dos moradores das cidades sobre como a tecnologia está ajudando a enfrentar os desafios urbanos foram altamente afetadas pela pandemia e sua aceleração da transformação digital. Os três primeiros colocados foram Cingapura (1°), Zurique (2º) e Oslo (3°).

Tendência Relacionada: Smart City: Internet das Coisas (IoT) e 5G

Uma Smart City é aquela cidade que emprega a tecnologia para melhorar a vida dos seus cidadãos e também cresce de forma sustentável. Desde o advento da internet das coisas – que tem como premissa conectar quaisquer artefatos à internet – são diversas as soluções criadas nesse âmbito. No entanto, até o momento, falta viabilidade tecnológica para que a adoção seja ampla e acelerada no Brasil. A promessa é que com a chegada do 5G e o consequente aumento de velocidade, diminuição do tempo de latência e a possibilidade de conexão simultânea de um grande número de dispositivos, as smart cities possam enfim se tornar uma realidade brasileira. 

 

 

4. Conclusão

Como você pode observar ao longo dos projetos, são diversas as soluções com potencial de aplicação nas mais diversas cidades brasileiras. Nosso objetivo aqui foi apresentá-las, com informações complementares, para inspirar a sua ação.

As cidades do futuro precisam de investimentos em infraestrutura, no presente. Não a infraestrutura da forma como compreendemos até agora, e sim, aquela referenciada pela Comissão Global sobre Economia e Mudança Climática, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). De acordo com essas entidades, as infraestruturas contemporâneas estão se voltando para dois objetivos: enfrentamento das as mudanças climáticas e a luta contra as desigualdades.

O Secretário Geral da ONU, António Guterres, afirmou durante reunião do Grupo C40 de Grandes Cidades para a Liderança Climática que as cidades são “uma força positiva e crescente no cenário global”. Principalmente depois da pandemia de COVID-19, que trouxe novos desafios – como altas taxas de mortalidade e perdas econômicas.

Segundo Guterres, as cidades têm três papéis importantes no combate aos efeitos das mudanças climáticas nos próximos anos:

  1. A cooperação entre prefeitos e líderes nacionais para apresentar contribuições mais ambiciosas, antes da Conferência Climática da ONU, COP-26, que acontece em novembro de 2021 no Reino Unido.
  2. Fazer planos ambiciosos para a próxima reunião e assumir o compromisso de ter emissões líquidas de carbono zero até 2050.
  3. Aproveitar a recuperação da pandemia para acelerar o investimento e a implementação em infraestrutura limpa e verde e sistemas de transporte.
 

Por isso, esperamos que os projetos e soluções aqui apresentados, possam ser referência e inspiração para as transformações necessárias e urgentes nos municípios brasileiros. E assim, tornarmos realidade o atendimento aos objetivos de desenvolvimento sustentável, garantindo o bem-estar das nossas populações e da vida no planeta.